Objeto Semi-Identificado - Gilberto Gil

— Diga lá

— Digo eu

— Diga você

— E línguas como que de fogo tornaram-se invisíveis

E línguas como que de fogo tornaram-se invisíveis.

E se distribuíram e sobre

cada um deles assentou-se uma.

E todos eles ficaram cheios de espírito santo e

principiaram a falar em línguas diferentes

— Eu gosto mesmo é de comer com coentro.

Uma moqueca, uma salada, cultura,

feijoada, lucidez, loucura.

Eu gosto mesmo é de ficar por dentro,

como eu estive na barriga de Claudina, uma velha baiana cem por cento

— Tudo é número.

O amor é o conhecimento do número e nada é infinito.

Ou seja: será que ele cabe aqui no espaço beijo da fome?

Não.

Ele é o que

existe, mais o que falta

— O invasor me contou todos os lances de todos os lugares onde andou.

Com um sorriso nos lábios ele disse: «A eternidade é a mulher do homem.

Portanto, a eternidade é seu amor»

Compre, olhe, vire, mexa.

Talvez no embrulho você ache o que precisa.

Pare, ouça, ande, veja.

Não custa nada.

Só lhe custa a vida

— Entre a palavra e o ato, desce a sombra.

O objeto identificado, o encoberto,

o disco-voador, a semente astral

— A cultura, a civilização só me interessam enquanto sirvam de alimento,

enquanto sarro, prato suculento, dica, pala, informação

— A loucura, os óculos, a pasta de dentes, a diferença entre o 3 e o 7. Eu crio

A morte, o casamento do feitiço com o feiticeiro.

A morte é a única liberdade,

a única herança deixada pelo Deus desconhecido, o encoberto, o objeto

semi-identificado, o desobjeto, o Deus-objeto

— O número 8 é o infinito, o infinito em pé, o infinito vivo, como a minha

consciência agora

— Cada diferença abolida pelo sangue que escorre das folhas da árvore da morte.

Eu sou quem descria o mundo a cada nova descoberta.

Ou apenas este espetáculo

é mais um capítulo da novela «Deus e o Diabo etc.

etc.

etc.»

— O número 8 dividido é o infinito pela metade.

O meu objetivo agora é o meu

infinito.

Ou seja: a metade do infinito, da qual metade sou eu, e outra metade

é o além de mim

- Say it

- I say

- Tell you

— And tongues like fire have become invisible

And tongues like fire became invisible.

And if distributed and about

each of them seated one.

And they were all filled with holy spirit and

started speaking in different languages

— I really like eating it with coriander.

A moqueca, a salad, culture,

feijoada, lucidity, madness.

What I really like is to stay inside,

as I was in the belly of Claudina, an old woman from Bahia, one hundred percent

— Everything is number.

 Love is knowing the number and nothing is infinite.

That is, does it fit here in the kiss of hunger space?

Not.

What is he

exists, but what's missing

“The invader told me every move from every place he's been.

With a smile on his lips he said: «Eternity is the woman of man.

Therefore, eternity is his love »

Buy, look, flip, stir.

Maybe in the package you will find what you need.

Stop, listen, walk, see.

It costs nothing.

It only costs you life

— Between the word and the act, the shadow descends.

The identified object, the covered,

the flying saucer, the astral seed

— Culture, civilization only interest me as long as they serve as food,

while sarro, succulent dish, tip, pala, information

— The madness, the glasses, the toothpaste, the difference between the 3 and the 7. I create

Death, the marriage of the spell with the sorcerer.

Death is the only freedom,

the only inheritance left by the unknown God, the covert, the object

semi-identified, the desobject, the God-object

— The number 8 is the infinity, the infinite standing, the infinite alive, like my

consciousness now

— Each difference abolished by the blood that flows from the leaves of the tree of death.

I am the one who describes the world with each new discovery.

Or just this show

is yet another chapter of the novel «God and the Devil etc.

etc.

etc."

— The number 8 divided is the half infinity.

My goal is now my

infinite.

That is, half of the infinity, of which half is me, and half

it's beyond me