Ao Poeta Perguntei - Amália Rodrigues

Amália Rodrigues — Ao Poeta Perguntei

Ao poeta perguntei

Como é que os versos assim aparecem?

Disse-me só: Eu cá não sei

São coisas que me acontecem

Sei que nos versos que fiz

Vivem motivos dos mais diversos

E também sei que sempre feliz

Não saberia fazer os versos

Ó meu amigo, não pense que a poesia

É só a caligrafia num perfeito alinhamento

As rimas são assim como um coração

E que a cada pulsação

Recorda sofrimento

E nos meus versos pode não haver medida

Mas o que há sempre são coisas da própria vida

Fiz versos como faz dia

A luz do sol sempre ao nascer

Eu fiz os versos porque os fazia

Sem me lembrar de os fazer

Com a expressão e os jeitos

Que pra cantar se vão dando a voz

Todos os versos andam já feitos

De brincadeira dentro de nós

Amália Rodrigues — To the Poet I asked

I asked the poet

How do the verses like this appear?

He just said to me: I don't know

These are things that happen to me

I know that in the verses I made

They live for different reasons

And I also know that I am always happy

I wouldn't know how to do the verses

O my friend, don't think that poetry

It's just the calligraphy in perfect alignment

The rhymes are just like a heart

And that each pulse

remember suffering

And in my verses there may be no measure

But what there are always things from one's own life

I made verses like day

The light of the sun, always at sunrise

I made the verses because I made them

Without remembering to do it

With the expression and the ways

That voice is given to sing

All verses are already done

Of playing inside us